Laura Noemi Chaluh; Keila Santos Pinto (Organizadoras) !@
Escritas do cotidiano na Educação Infantil: modos de estar atentos a si e aos outros. São Carlos: Pedro & João Editores, 2019. 95p.
ISBN 978-85-7993-679-1
1. Formação de professores. 2. Saberes da experiência. 3. Narrativas. 4. Alteridade. 5. Autores. I. Título.
CDD – 370
Prefácio
Para não dizerem que falei só de
narrativas de professoras!
Guilherme do Val Toledo Prado[1]
Foi com
muita emoção que aceitei prefaciar esta obra, organizada pelas colegas Laura
Noemi Chaluh e Keila Santos Pinto, com o expressivo título “Escritas do
Cotidiano na Educação Infantil: modos de estar atentos a si e aos outros”.
Penso eu que
um primeiro destaque a fazer é o compromisso estabelecido que se anuncia nas
plurais palavras “modos de estar”. “Modos de estar” que, assumidos e vividos
por suas organizadoras de maneira intensa e atentas, verdadeiras militantes na
profissão que, em atos pedagógicos realizados em diferentes propostas de
formação, possibilitaram que as vozes de outros - autoras e autores dessa obra
– também constituídos de múltiplas vozes de si (pelos compromissos assumidos em
diversas instâncias sociais), inscrevam também, em suas breves narrativas, as
vozes de seus interlocutores mais próximos – seus outros (estudantes e colegas),
constituindo nesta plêiade narrativa plural, uma dimensão transformadora
necessária no e ao campo educacional.
As breves
narrativas presentes nesta obra, que nós do GEPEC – Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Continuada – desde 2008, temos chamado de “pipocas
pedagógicas”, evidenciam a dimensão transformada e transformadora, referida nas
diversas palavras, acontecimentos e situações cotidianas vividas, que cada uma
das narrativas apresenta e que possibilita, aos diversos leitores que as
saboreiam, rememorar e viajar nos percursos discursivos a produzir novas
possibilidades de pensamento-ação ou, como diria o Mestre Paulo Freire,
verdadeiros inéditos viáveis no campo
do cotidiano escolar educativo.
E os
percursos apresentados levam-nos – seus leitores e leitoras – pelas paisagens
das escolas de diversas regiões do interior do Estado de São Paulo, por
histórias das pessoas que pelas escolas passaram ou que pelas escolas lutaram,
e lutam, nos diversos contextos formativos da profissão docente; paisagens que
revelam as marcas históricas das pessoas que construíram práticas em um tempo
outro ou que, em um outro tempo, produziram novas possibilidades de percorrer
as mesmas – mas sempre outras – paisagens contemporâneas no âmbito da educação,
notadamente aquelas orientadas para as prática educativas com a/na Infância.
Percursos
pedagógicos reveladores do esforço de preservar e dar novos sentidos ao
cotidiano escolar – passado ou presente, mas que apontam para um futuro porvir,
ineditamente viável, no dia a dia da população caipira do estado de São Paulo e
seus profissionais da educação.
As vozes
presentes em cada uma das narrativas pedagógicas, escritas por estudantes da
Pedagogia e estagiários na Educação Infantil, que compõem esta obra coletiva,
tomam os pequenos outros, em uma
dimensão singular de alteridade, constitutiva da produção de sentidos acerca
das questões educacionais, possibilitando que o diálogo entre o local e o
global, tão bem apresentado por Milton Santos e Boaventura Santos, seja
produzido a partir do diálogo entre as pessoas e os diversos coletivos de que
participam, em diferentes instâncias formativas.
À medida que
a leitura de cada um dos textos se encerra, podemos compreender que o compromisso
assumido em apresentar os percursos e paisagens das diferentes vozes neles
inscritos cria uma dimensão formativa que transcende o contexto educacional e
nos convida, enquanto pessoas e cidadãos do mundo, a não só acreditar nas
micromudanças sociais, mas a visualizar possibilidades de transformação e
justiça social na educação de crianças.
Este
conjunto de “pipocas pedagógicas”, profundamente necessária e original no
tratamento das temáticas educacionais porquê da perspectiva de seus produtores
mais diretos – estudantes/estagiários, em diálogo com outras “pipocas
pedagógicas”, produzidas por professores e profissionais da escola, que
acontecem em outras instâncias discursivas, apresenta-nos uma outra forma de
pensar as práticas de formação escolares, situadas e comprometidas com o
desenvolvimento humano de todos os seus participantes, com especial destaque
aos alunos e alunas da escola básica. Afinal, como diz o poeta, Geraldo Vandré,
“...caminhando e cantando, seguindo a canção,/ somos todos iguais, braços dados
ou não,/ nas escolas, nas ruas, campos, construções...”
É um
registro singular e reconfortante que, ao revelar a precariedade das condições
materiais e simbólicas a que estão sujeitas as instituições educacionais,
principalmente as públicas, apresenta a possibilidade de avançar nas conquistas
– com o conhecimento, com a cultura, com a união de forças sociais, só
possíveis de agregar pela partilha e pelo diálogo, em princípios solidários e
igualitários.
Nesse
sentido, essas potentes narrativas podem tornar-se leitura obrigatória não só
por sua dimensão singular, como também por sua dimensão utópica, tão necessária
nestes tempos de individuação e meritocracia.
Em cursos de
formação inicial de professores, ou mesmo de formação continuada, aqueles que
conhecem as “pipocas pedagógicas”, bem como outras narrativas da escola,
ampliam os sentidos delas, agregando-os aos conhecimentos da formação ou da
experiência e, surpreendentemente, se veem também inspirados a produzirem suas
breves narrativas da escola e na escola, suas próprias “pipocas pedagógicas”,
colecionando novos e outros modos de ensinar e aprender.
“Vem, vamos
embora, que esperar não é saber,/ quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Para
encerrar esta apresentação, não posso deixar de lembrar do poema de Manoel de
Barros, no livro “Cantigas por um passarinho à toa”, que nos questiona: “O
saber não vem das fontes?” Pelas palavras do poeta, digo a todos, nomeando
Laura e Keila, que as fontes da formação são diálogos entre as raízes e as
folhas que colhemos em nossos quintais – seja em Rio Claro, Campinas... e em
outros mais que possamos trilhar.
Santos,
março de 2019.
[1] Professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas e Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação
Continuada (GEPEC).