A escrita no ensino superior: saberes, métodos e gêneros

Francisco Vieira da Silva, Hermano Aroldo Gois Oliveira

PREFÁCIO

 

Receber um convite para prefaciar um livro é sempre lisonjeador. Considero uma honraria receber a versão em primeira mão, ainda não divulgada a um maior público leitor e poder interagir com os textos privativamente. Significa confiança e cumplicidade. E foi assim, envolvida por essa motivação que comecei a ler A escrita no ensino superior: saberes, métodos e gêneros que trata de um tema que muito me interessa e instiga, além da alegria adicional de se tratar de uma coletânea organizada por Francisco Vieira da Silva e Hermano Aroldo Gois Oliveira com os quais compartilho experiências de aprendizagem e vivências outras.

Acontecimentos nem sempre são fortuitos e o que reuniu todos esses autores, professores e pesquisadores de diferentes instituições, comprometidos com a investigação e a prática da escrita acadêmica, é algo relativamente recente e que tem se intensificado nos eventos científicos, os quais, dentre outras práticas, configuram e singularizam esse amplo feixe de ações que constituem os eventos de letramento acadêmico: a organização de discussão em grupos temáticos.

Certamente, é muito importante (e necessário) compartilhar experiências diferentes a partir de lugares temáticos e teóricos diversificados, mas como é prazeroso trocar ―figurinhas‖ com quem compartilhamos interesses mútuos de pesquisa. Foi o que aconteceu ao longo das apresentações e discussões realizadas no grupo de trabalho (GT), Reflexões Sobre Ensino, Análise e Produção de Gêneros Acadêmico-Científicos, do X Seminário Nacional sobre Ensino de Língua Materna e Estrangeira e de Literatura, ocorrido na Universidade Federal da Paraíba, de 22 a 24 de novembro de 2017.

Cada capítulo deste livro aborda uma experiência diferente, seja de natureza didática ou investigativa, a partir de diferentes gêneros acadêmicos e distintas realidades, mas com um interesse comum: promover e socializar estudos, pesquisas e práticas relacionadas ao conhecimento e promoção do letramento acadêmico. Como pode ser visto logo no sumário e, posteriormente, na leitura dos capítulos, ressalta-se uma preocupação com os processos formativos que tanto têm me mobilizado ao longo de nossas atividades no Ateliê de Textos Acadêmicos (ATA/Cátedra UNESCO de Leitura e Escritura), no contexto de promoção e didatização da escrita na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), envolvendo tanto alunos e colaboradores da pós-graduação quanto da graduação.

É nesse sentido que recebo e divulgo com muita satisfação mais uma obra que, para além da abordagem dos gêneros em seus aspectos formais e estruturais, considera as condições de recepção e produção de textos em contexto acadêmico. Tal preocupação remete ao que Bazerman (2005, p.34) pontua sobre considerar ―”o sistema de atividades junto com o sistema de gêneros é focalizar o que as pessoas fazem e como os textos ajudam as pessoas a fazê-lo, em vez de focalizar os textos como fins em si mesmos”.

Assim, pensar e praticar a escrita acadêmica implica considerar as representações sobre escrita e pesquisa no contexto das humanidades, perpassadas por reflexões necessárias sobre abordagens didáticas no contexto atual pedagógico em que se tem posto em xeque práticas tradicionais ainda respaldadas na escrita como um dom. Nesse sentido, engana-se quem pensa que na universidade a produção textual situa-se dentro de um paradigma que considera o texto enquanto prática e processo social-interativo. Há avanços localizados, mas ainda há muito a se construir e esse livro representa mais uma pedra nesse alicerce.

Portanto, os capítulos aqui reunidos dão conta tanto do contexto sociointeracional de produção, quanto de aspectos discursivos, metadiscursivos, metalinguísticos e formais, também necessários na compreensão dos mecanismos inerentes à constituição textual. A esse respeito, finalizo com uma citação de Bronckart (1999, p.97) que ilustra bem o processo ―[…] um texto empírico é um produto da dialética que se instaura entre representações sobre os contextos de ação e representações relativas às línguas e aos gêneros de texto‖(BRONCKART, 1999).

Recomendo a leitura a todos que pesquisam, promovem e praticam a escrita acadêmica.

João Pessoa, 13 de março de 2018
Regina Celi Mendes Pereira[1]

Notas de rodapé

[1] Possui doutorado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (2005). Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PROLING) da Universidade Federal da Paraíba, de junho de 2009 a junho de 2012, onde desenvolve pesquisas vinculadas à Linguística Aplicada com ênfase nos seguintes temas: gêneros, letramento, escrita, formação docente e processos de ensino-aprendizagem de produção textual. Foi conselheira da Associação Nacional de Letras e Linguística (ANPOLL), quadriênio 2012-2016. É editora da Revista Prolíngua e coordenadora da sub-sede da Cátedra UNESCO em Leitura e Escritura no Brasil. Desenvolve projetos de acompanhamento aos professores de língua portuguesa da rede pública e tem atuado em cursos de formação desses profissionais. É uma das líderes do grupo de pesquisa GELIT/CNPq/UFPB (Grupo de Estudos em Letramentos, Interação e Trabalho), integrante do GT de Gêneros textuais/discursivos e membro do grupo ALTER-PUC/SP.

Referências

BAZERMAN, Charles. Gêneros Textuais, Tipificação e Interação. São Paulo: Cortez Editora, 2005.

BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos. São Paulo: Educ, 1999.

Ano de lançamento

2018

ISBN [e-book]

978‐85‐7993-476-6

Número de páginas

252

Organização

Francisco Vieira da Silva, Hermano Aroldo Gois Oliveira

Formato