Ler livros é amar outras vidas: possíveis, existentes, imagináveis, inimagináveis

João Wanderley Geraldi

R$50.00

INTRODUÇÃO

Mais uma vez vou aos arquivos para compor um livro, registro de leituras feitas no último ano. E componho um livro sobre livros com a mesma pretensão: indicar leituras e, ao mesmo tempo, fornecer informações sobre o que contém cada livro lido.

Certamente estes registros de leituras são mais úteis a mim do que aos leitores: embora desde cedo tenha me habituado a marcar os livros – abrir um livro me obriga a carregar um lápis ou uma caneta – não fui favorecido com uma memória muito ampla. Assim, estes registros são também mnemônicos. Quando quero lembrar a história, buscar alguma citação, venho a estes arquivos, que publicados juntos em livro se tornam coletivos.

Aposentado e já na idade em que a coluna começa a se curvar, aproveito da minha biblioteca e das minhas visitas a sebos. Posso ser um leitor obsessivo, mas não sou um leitor especializado. A natureza dos livros que leio é vária. Seus sucessos editoriais não são critérios para que os tome nas mãos. Leitor voraz, mas de gosto aleatório.

Alguns escritores me surpreenderam e por isso são mais frequentes. Outros são tão clássicos e lidos há tanto tempo que jamais aparecerão nestes registros. E nem caberia voltar a eles para registrá-los nos meus arquivos. São livros carregados de comentários, a que a crítica sempre retorna, em que novas edições se sucedem. Gosto deles, mas deixo-os descansados para folhear, abrir em qualquer página, e ler um pouco, só um pouco.

Mas com os livros que leio hoje – alguns são clássicos a que cheguei somente agora – tenho me alimentado, e me alimentado muito bem. O convívio com autores contemporâneos como Valter Hugo Mãe, Ascêncio de Freitas (entre os portugueses), Ondjaki e José Eduardo Agualusa (entre os africanos), com Luiz Antônio de Assis Brasil e Charles Kiefer (entre os brasileiros) têm ajudado a enfrentar estes tempos por que caminhamos inseguros e com as naus entregues a mãos retrógradas.

Para mim, ler sempre me agradou. Desde quando comecei a frequentar uma pequena biblioteca infantil que havia na Praça 7 de Setembro, na cidade de Santo Ângelo. Lá havia um parquinho com balanços e areia. E lá havia um pequeno prédio, e no segundo andar havia esta biblioteca. Foi lá que conheci os contos de fada. Não minto, tive medo da bruxa malvada e da sua maçã, me diverti com os anõezinhos da Branca de Neve, mas não cheguei a odiá-la, como fez minha filha aos 4 anos, porque ela foi embora com o príncipe e deixou os anõezinhos sós naquela floresta. Minha sensibilidade era mais grosseira!

Aprendo com os livros, mesmo com aqueles a que a crítica especializada espezinha – a rima é propositada porque a arrogância do especialista decreta vidas e mortes. Mas não leio, simplesmente: com a caneta na mão, estudo e paro a cada jogo de palavras, a cada invenção linguística, a cada possibilidade tão óbvia que não ocorrera antes a ninguém. Daí meus gostos por Mia Couto, por Ascêncio Freitas, por Ondjaki: os africanos nos fazem ver o que não enxergamos!

Espero, mais uma vez, que os leitores deste livro que é uma continuidade dos anteriores – Textos sobre textos (2017) e Leituras. Ficções, realidades (2018) – extraiam daqui ao menos a vontade de ler um ou outro daqueles que aqui comparecem.

Barequeçaba, setembro de 2019

João Wanderley Geraldi

Ano de lançamento

2019

Autoria

João Wanderley Geraldi

ISBN

978-85-7993-754-5

Número de páginas

272

Formato