Demoramos demais a entender que a “identidade é uma armadilha”! Ouvimos pela primeira vez essa expressão em italiano. “L’identità é una trappola”. Não conseguíamos entender minimamente o que fosse uma “trappola”. Pensei que pudesse ser um trapo, um pano velho, uma coisa imprestável. Não era. Quase se poderia pensar mesmo que a identidade fosse algo imprestável. Mas a identidade presta. A armadilha, a que Ponzio, que enunciou esse enunciado em 2010, quando o encontramos pela primeira vez no Brasil, ainda no hotel em São Paulo, onde fomos todo o GEGe recepcioná-lo, se referia era mesmo uma cadeia, uma prisão, inescapável, sempre que a identidade fosse vista e construída a partir do próprio sujeito. Era a identidade do sujeito cartesiano. O que pode me libertar dessa perspectiva é o olhar do outro, olhando pra mim, o ato responsável do outro, me respondendo e entrando em inter-ação comigo, me constituindo nessa relação. Assim me constituo, minha identidade é constituída nessa relação, a identidade é constituída com o outro. Também não pelo outro. Pois sempre tenho um excedente de visão nessa relação. A identidade se constitui com o outro, num jogo de alteridade. Sendo assim também aprendemos que o eu, a minha identidade, é uma concessão do outro, constituída nessa relação. O eu não é uma construção realizada por mim mesmo. Não sou o Barão de Münchausen me puxando do atoleiro dos pensamentos pelos meus próprios cabelos. E se dizemos que é uma concessão, ainda devemos dizer que minha identidade me é concedida na relação com o outro, apesar de mim. Não tenho o controle total dessa relação. Mesmo eu não querendo ser avô ou avó, se nosso filho tiver um filho, nos tornamos avós na marra. Apesar de não querermos. Na relação me constituo.